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"Summertime"


                                     Capitulo 10 - Nothing’s wrong with dreaming






Arthur’s P.O.V mode ON.

Comecei a andar de um lado para o outro dentro do quarto feito um idiota. A idéia de que Lua não aparecesse era mais do que humilhante, era assustadora. Eu nunca tinha deixado as coisas chegarem nesse ponto: seja lá de qual ponto estamos falando, digo, nunca tinha gostado assim de uma garota. É claro que algumas delas já me surpreenderam, mas com a Lu era diferente: Era estranho porque mesmo ela sendo bastante teimosa e insuportável, - Além de irmã do meu melhor amigo, devo acrescentar – Ela parecia me ter em mãos. Tudo o que ela fazia, cada gesto, o jeito de falar, de andar, até a forma com que ela me tirava do sério era irresistível pra mim. E eu não sei como isso veio acontecer, porque sinceramente eu a odiava. Tudo aquilo que eu não suportava nela tinha sumido, ou pior ainda, se transformado em alguma forma estranha de qualidade. Qualquer garota que me desse um bolo pra sair com as amigas deveria ser ignorada até a morte. Mas não, quando ela faz isso...
Olhei para o visor do celular e percebi que estava andando sem parar há pelo menos quinze minutos. Mas que merda, porque ela tinha que demorar tanto? Tirei os tênis e me joguei na cama, procurando algo na TV. Passei canal por canal, sem reparar em nada do que estava ali, era um gesto automático, irritante. Soltei o controle na cama e olhei para a tela, onde algumas mulheres realmente gostosas estavam fazendo o que bem queriam numa piscina. Ri sozinho.

- Lu, olha o meu estado!

- Liga no Playboy TV. – Ela respondeu rindo e sumiu escada acima.

- Playboy TV.

Murmurei, rolando os olhos. Até nisso eu tinha que lembrar dela. Desliguei a TV poucos minutos depois, eu não prestaria atenção nem naquilo, quando tinha algo engasgado em minha garganta. Ela estava demorando demais. Conseguia ouvir o som alto da festa no andar debaixo, aquilo iria longe. Eu poderia descer e ver com meus próprios olhos, ela provavelmente estaria dançando em cima de alguma coisa com as amigas, como se não se importasse. Mas eu sabia que ela se importava. Ela tinha que se importar. Puxei dois travesseiros enormes e deitei neles, virando a barriga para baixo e fechando os olhos, como se convencesse a mim mesmo de que não estava esperando ninguém. Mas eu tinha bebido muito, e meus olhos começaram a ficar pesados. Procurei pelo celular no bolso.

- Quarenta minutos. – Disse baixo e enterrei o rosto nos travesseiros, nervoso.

Eu não estava mais conseguindo vencer a luta contra meus próprios olhos, eu teria que levantar naquele instante se quisesse estar acordado quando ela chegasse. Se ela chegasse. Respirei fundo, mas não consegui me mover. O som da festa parecia mais distante, minha cabeça já começou a misturar as imagens de tudo o que eu tinha visto e feito no dia. Eu não tinha mais forças.

Londres, 2002.

- Eu quero fazer um boneco de neve gigante! – Chay disse maravilhado enquanto os flocos caiam sobre nossas cabeças. Meus olhos brilharam.

- Claro, e dessa vez ele não vai cair! – Eu disse e nós dois rimos, entrando pelo jardim coberto de neve da casa dos Suede.

Fazia pouco menos de um mês que eu havia me mudado com minha mãe para aquele bairro. Meus pais tinham se separado e eu estava achando tudo aquilo uma droga. Como todo moleque de dez anos, eu queria ter meu pai por perto, mas com a mudança eu estava a pelo menos duas horas dele. Várias estações de metrô e um ônibus. Eu havia decidido que faria o possível pra irritar minha mãe, o suficiente pra que ela resolvesse voltar pra nosso outro bairro, perto do meu pai e dos meus amigos. Mas logo nos dias que eu cheguei, conheci meu vizinho da frente, o Thaigo. Ele era um garoto legal, e tinha um outro amigo, o Chay. Logo me enturmei com eles e acabei perdendo o foco do filho revoltado que eu queria ser. Eu nunca tinha ido até a casa do Chay, costumávamos ficar na casa do Thaigo. Assim que ele abriu a porta da casa, sua mãe, que estava sentada no enorme sofá enrolada em uma manta, sorriu pra mim.

- Hey querido, você é o famoso Arthur?

- Famoso? – Fiz careta e Chay também.

- É, o Chay e o Thaigo falam bastante de você.

- Ah. – Respondi um pouco sem graça e ela riu.

- Estou com um bolo de chocolate no forno, vocês vão fazer o que?

- Boneco de neve! – Respondemos juntos e a Sra. Suede riu.

- Tudo bem, eu os chamo assim que ficar pronto.

Saímos para o jardim e começamos nossa milésima tentativa de um boneco de neve. O mais próximo que chegamos, tinha desmoronado em vinte segundos. Thaigo tinha saído com os pais dele e provavelmente não viria aquele dia, o que não tinha tanta importância, na verdade. Ele reclamava demais de ficar no frio por tanto tempo.

- Vou buscar uma pá maior, acho que deve ter alguma nas coisas que minha mãe usa no jardim – Chay disse fazendo careta quando nosso boneco caiu de novo. Eu ri.

- Vou continuar montando.

Comecei a juntar a neve novamente assim que Chay sumiu. Poucos minutos depois, uma garotinha se aproximou. Garotas não eram legais, não naquela época. Ela estava toda de rosa, parecia de brinquedo, com as bochechas vermelhas por causa do frio e um gorro imenso na cabeça. Eu ri, e ela sorriu. Tossi logo em seguida, lembrando que eu não devia sorrir para garotas e me virei para o boneco. Mas ela não se moveu. Continuou ali, como uma Barbie em miniatura que alguém tinha fincado na neve. Fiz uma careta.

- Perdeu alguma coisa? – Disse, levantando.

- Posso ajudar você? – Ela respondeu com uma voz animada, voz de menininha. Torci o nariz.

- Não, meu amigo já está me ajudando. – Bufei.

- Porque garotos são tão idiotas? Eu sou uma menina, não um leão. Eu não vou morder você! – Ela disse num tom de voz óbvio e meu queixo quase caiu no chão. Ela era menor que eu, como podia falar daquele jeito? Fiquei sem resposta, e ela riu.

- Mas... Mas... – Gaguejei – Essa é a casa do meu amigo!

- Eu sou irmã do seu amigo. – Ela riu – Você é o Arthur, né? Minha mãe falou. Cadê o Thaigo, ele não vem hoje? Ele escondeu minha boneca, eu tenho certeza! Mas ele vai pagar, vai pagar muito caro e... – A pequena criatura disparou a falar e tudo o que eu fiz foi ficar com cara de bobo, sem conseguir interromper. Menina estranha aquela.

- Achei uma maior, Arthur! – Chay chegou – Ah, já se conheceram? Essa é a Lua, minha irmã.

- Lu, me chama de Lu! – Ela resmungou e eu ri.

- Que seja. – Chay murmurou.

- Posso ajudar vocês Chay? – Ela perguntou e ele deu de ombros, fazendo-a dar pulinhos animados e se juntar a nós.

- Thaigo! – Vi Lu correr em nossa direção e pular em Amaral. Ele pareceu sem graça, mas a abraçou.

- Hey, Lu! – Respondeu sorridente.

- Oi, Arthur! – Ela disse feliz e eu dei um passo pra trás, pra evitar que ela fizesse o mesmo comigo. Não que eu achasse que ela faria, ela parecia gostar bem mais de Thaigo. Mas só pra garantir. – O Chay está no quarto dele!

- Valeu, baixinha! – Thaigo disse e ela fez careta, o que me fez rir.

- Ei, eu tô quase da sua altura, Amaral! – Ela bufou e cruzou os braços, caminhando até a cozinha – Ô mãe, o Thaigo me chamou de baixinha de novo! – Ela dizia com a voz chorosa e nós gargalhamos, subindo para o quarto.

- Hey Chay! – Dissemos ao entrar no quarto, e ele sorriu.

- E aí! – Disse estendendo a mão para nosso novo jeito de cumprimentar. Algo como bate as mãos, gira pra lá e pra cá e faz um barulhinho com a boca. Afinal, todos os garotos e turmas legais tem que ter seu próprio toque. – Vocês acreditam que a minha irmã e as amigas dela conseguiram fazer um boneco de neve? Bem melhor que o nosso!

- Ah, fala sério! Elas são garotas de nove anos! – Respondi. E daí que eu só tinha dez, elas tinham NOVE. Pirralhas.

- A Lu consegue tudo o que ela quer, Aguiar! – Chay riu. – Meu pai veio aqui no fim de semana e terminou a casa da árvore! – Ele disse empolgado.

- Estamos esperando o que? Vamos pra lá! – Thaigo saltou da cama e nós descemos as escadas correndo.

Lu estava no jardim balançando numa árvore em frente a enorme casa de madeira que o pai deles havia feito. Ela sorriu ao nos ver.
- Vão fazer o que? Posso brincar com vocês? A Soph não vem mais... – Ela fez bico e Chay riu.

- Casa da Árvore. – Ele disse gargalhando. Lu fez uma careta e depois fechou a cara, Thaigo olhava sério. E eu com cara de nada.

- Vou ficar aqui mesmo. – Ela respondeu fazendo bico.

- Por quê? – Ouvi minha própria voz perguntar, sem eu nem ter pensado antes. Ela levantou o olhar, sem responder nada.

- Porque ela tem medo! – Chay apontou e começou a rir, e eu comecei a rir junto com ele. Medo de ir numa casa da árvore? Que garota besta!
- Gente, deixem ela... – Thaigo disse baixo e eu vi uma lágrima escorrer pelo rosto de Lu.

- Medrosa! – Eu disse rindo e bati minha mão na de Chay.

- Eu odeio você, Arthur Aguiar. Meu irmão é um idiota depois que te conheceu. Você é um idiota – Ela chorava – Fiquem com sua casa da árvore estúpida. Eu odeio todos vocês! – Ela saiu correndo em direção a casa, e parou na escadinha, virando de frente – Menos o Thiago, eu não odeio o Thaigo! – Disse chorando e correu pra dentro, enquanto nós ainda ríamos.

Acordei num pulo. Meus olhos demoraram pra se acostumar com a luz do abajur, e eu esfreguei os olhos.
- É por isso que ela me odiava? – Lembrei, confuso, sem saber se aquela imagem fazia parte de um sonho ou de uma realidade distante. Meu quarto estava vazio, nenhum sinal de que Lu tinha passado por lá. Olhei para o relógio, quase quatro da manhã, eu tinha cochilado por vinte minutos. Passei a mão pelo cabelo, revoltado, e me joguei nos travesseiros. Estava claro: Ela não iria aparecer.

Londres, 2007.

Era triste ser um calouro de colegial. Nos primeiros dias de aula, era tudo novo, estávamos empolgados e tudo mais. Nunca tinha visto tantas garotas bonitas concentradas em um só lugar. Mas quando você é novo na High School e não é exatamente como os jogadores de futebol veteranos, tudo perde a graça bem rápido. Garotos de quinze anos, magrelos e com tendências roqueiras não agradam as líderes de torcida. Talvez quando tivermos dezesseis... Coloquei os fones de ouvido e fiquei observando a movimentação da escola. Vi alguns garotos do terceiro ano pararem suas idiotices por dois segundos e virei o pescoço pra ver o que eles viam. Lu e suas amigas estavam entrando no pátio do colégio, que nem naqueles filmes americanos, desfilando. Parecia que todo mundo abria espaço pra que elas passassem. Porra, elas também são calouras! Quando cruzaram ao lado dos playboys do colégio, um deles a segurou pelo braço. Eu não estava perto o suficiente pra entender o que diziam, sei que ela sorriu idiotamente pra qualquer merda que aquele acéfalo disse. Os dois riram e ela continuou seu caminho, enquanto ele e seus quatro amigos encaravam sua bunda.

- Hey dude! – Chay chegou do meu lado e eu chacoalhei a cabeça com força.

- Hey.

- Tava olhando o que? - Sua irmã, aquela nojenta gostosa! Quase respondi, mas respirei.

- Umas garotas que estavam passando, só isso. – Murmurei, rolando os olhos.

- Chay! Chay! Chay! – Lu chegou pulando e eu arqueei uma sobrancelha, assim como Micael. Ele também não estava acostumado com o jeito estranho daquela garota.

- Meu Deus, vai chover hoje! A Lua Suede passando pela mesa dos losers com o refeitório lotado, wow! – Bati palmas e ela levantou o dedo do meio, sem olhar pra mim. Ri baixo.

- O que aconteceu, sua doida?

Chay perguntou rindo e Thaigo encarava interessado. Duas amigas dela estavam paradas logo atrás. Sophia, que era simpática, vizinha deles desde sempre, e Ully, uma garota meio maluca que se juntou a elas no colégio. A outra nojentinha, a tal da Melanie, não se deu ao trabalho de chegar perto de nós, estava na mesa dos populares, olhando para o nosso lado com desdém.

- Você está olhando para a mais nova integrante da equipe de líderes de torcida desse colégio! – Lu pulou animada junto com as amigas. Thaigo riu.

- Você passou? – Ele perguntou empolgado e Lu riu. A amiga dela deu um tapa na cabeça de Amaral.

- Claro que não, Amaral, ela só está empolgada porque perdeu! – Ully disse gargalhando e ele fez careta – Eu tô brincando, bobinho! – Ela sorriu e Chay e Thaigo também.

- Parabéns! – Chay disse tentando parecer empolgado, mas parecia um pouco preocupado. Muito provavelmente porque sua irmãzinha querida viraria uma biscate como todo o resto das cheerleaders. Mas eu desconfiava que ela já era assim.

- Obrigada, chuchu! – Lu sorriu. – E nem venha pedir os telefones das minhas companheiras de equipe, Aguiar. Conheço sua tara por líderes de torcida, mas gosto bastante daquelas garotas para desejar algum mal a elas. – Ela disse com uma piscadinha e os garotos gargalharam.

- Outch! – Thaigo sacaneou.

Apoiei as duas mãos na mesa e inclinei meu corpo pra frente, aproximando meu rosto do dela. Lu fez o mesmo, queria mostrar que não tinha medo de mim, mas deveria. Vi os veteranos amigos dela se aproximarem e acariciei seu rosto.

- Mas que mal eu posso oferecer a elas, docinho? – Disse sorrindo o primeiro apelido infeliz que veio na minha cabeça – Elas já vão ter que aturar você, qualquer coisa depois disso é lucro! – Ri alto e os garotos também. Lu abriu a boca, mas não emitiu nenhum som. Sorri vitorioso.
Minha relação como Lua parecia ficar cada dia pior. Não que eu realmente me importasse com isso, afinal, infernizar a vida da docinho (ela odiava esse apelido, então eu passei a usar sempre) era um dos meus hobbies favoritos. O único problema é que ela parecia gostar de arruinar minha vida também, então eu sempre me via em situações complicadas por causa daquela garota. Eu odiava admitir, mas ela era esperta. Nossa guerra nunca teria fim.

- Arthur, ME LARGA! – Ela berrou enquanto eu a prendia entre minhas pernas na cama, e segurava seus braços – SAI DE CIMA DE MIM!
- Você vai ter que retirar o que disse. Você foi longe demais, porra! – Gritei, sentia meu rosto queimar. Acho que nunca tive tanta raiva de alguém como naquele momento. Eu estava segurando seus pulsos porque se ela não fosse uma garota, meus braços já teriam parado no seu rosto, num murro bem dado. Ela merecia.

- Eu não vou retirar porra nenhuma! – Ela parecia gritar mais alto do que eu – Eu estou pouco me lixando pro que vão achar de você!

- Mas é mentira, caralho! – Apertei mais seus pulsos, e vi Lu morder o lábio para não gritar. Tentei afrouxar um pouco minhas mãos – Eu não broxei porra nenhuma!

Então ela começou a rir descontroladamente. Senti meu coração acelerar em um nível que poderia ser escutado a quilômetros. Bom, eu estava ficando com uma das líderes de torcida, a Janet. Ela era muito gostosa – Burra como uma porta, mas não é preciso muita inteligência para as intenções que eu tinha com ela – E a maldita da garota apareceu na minha casa no dia do aniversário da minha mãe. Estava cheio de parentes lá, e sabe... Ela queria um pouco mais do que eu conseguiria oferecer com toda a minha família no andar de baixo. Eu simplesmente a dispensei, o que não significa que eu broxei. Mas não, é claro que a Lua Suede fofoqueira espalhou para o colégio inteiro que eu era um broxa. Ótimo. Eu poderia matá-la ali mesmo.

- Para de rir! – Berrei e ela tentava recuperar o fôlego, mas não conseguia. Comecei a torcer pra ela ter um colapso e morrer engasgada. De verdade.

- Ai Aguiar! – Ela disse com a voz arrastada – Pela última vez: Eu não me importo que você não consiga dormir com mais nenhuma garota daquele colégio. Eu não me importo com nada que venha de você.

Meu estômago revirou e eu a apertei com um pouco mais de força, e dessa vez ela gritou. Num movimento rápido, subiu um dos joelhos e me atingiu bem nas partes, se é que me entende. Caí para o lado, gemendo. Lua xingava baixo e girava os pulsos com cara de dor. Depois um sorriso malicioso tomou conta de seu rosto, ao ver o meu estado.

- É – Ela riu – Parece que agora realmente você vai virar um broxa. – Disse por fim e gargalhou, saindo de seu próprio quarto.

- Nunca mais olha na minha cara. – Murmurei, me contorcendo. Ela sorriu.

- Será um prazer.


Continua...








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