Tecnologia do Blogger.

Nanny Blanco - Capitulo 2


                                               
                                              Conhecendo o território

Não jantei com os Aguiar na primeira noite, estava tão cansada que capotei depois de tomar um banho – ao qual fiquei uma hora tentando tirar a quantidade exacerbada de spray que Kaylie enfiou no meu cabelo.

No outro dia, em um sábado, acordei com algo pesado me sacudindo e abri os olhos apenas para me deparar com Kaylie parada em minha frente com cara de tédio. Ela estava usando um pijama e segurava o mesmo coelho com a qual eu a encontrei ontem.

— Bom dia — Digo, sonolenta e com os olhos embaçados — Que horas são? — Que tipo de pergunta é essa? Como a garota iria saber? Aproveitei que Kaylie não falou nada e me levantei, procurando o celular no criado-mudo. Só pra perceber que estava no horário de brasília. Teria que comprar um celular novo urgente — E aí?

— Tô com fome — Ela disse, fazendo bico. 

— Mata um homem e come — Aquela piada não deveria ficar engraçada em inglês, porque Kaylie apenas me olhou como se eu tivesse outra cabeça saindo do pescoço — Brincadeira, vou me levantar


Dei um pulo da cama e olhei para o despertador. 9Horas da manhã, a garota não conhecia o senso de dormir até tarde não? Me espreguicei e corri para o banheiro, Kaylie foi para o seu quarto trocar de roupa. Estava bem calor lá fora, então coloquei um short jeans e uma blusa preta que achei, deixando meu cabelo de qualquer jeito e passando um rímel rápido. Corri até o quarto de Kaylie e bati na porta, de onde ela saiu já vestida.

— Pera aí que eu já volto — Ela disse e fechou a porta na minha cara. Ela era bem educada, viu? Fiquei dez minutos olhando para a porta como se fosse a coisa mais interessante do planeta, até que a pimpolha resolveu aparecer. 
Agora vestindo um shorts e uma blusa preta. IDÊNTICA A MINHA.


Soltei uma risada e a puxei pelo braço até o primeiro andar, a mini-cover me guiou até imensa cozinha. Que aquela hora estava vazia, a empregada provavelmente nem havia chegado. Folgada.

— Você gosta de cereal? — Assentiu, coloquei ela sentada sobre a bancada e peguei o cereal de flocos no armário, como não achei tigela alguma, improvisei e coloquei o leite dentro do pacote mesmo, dei uma sacudida e entreguei a ela com um colherão. Que ninguém soubesse disso.
Kaylie franziu a sobrancelha, deu de ombros e começou a comer, enquanto eu peguei uma maça na geladeira e me sentei no banco em frente a ela.

— O que você gosta de fazer sábado? — Perguntei.

— Eu tenho aula de natação — Ela foi me avisar agora?

— O quê? Que horas? — Perguntei desesperada, além de dar comida pra garota direto do pacote, eu iria fazer ela se atrasar.

— As dez — Droga, olhei no relógio da sala: 09h55min.

— Kaylie, você já matou aula? — Sacanagem ficar ensinando esse tipo de coisa para a garota, mas já eram 09h55 e eu não sabia onde ficava. Ela me olhou com o cenho franzido — Vai ser um segredinho nosso, tá?

Que criança inocente, deixei ela comer o cereal e depois perguntei o que ela gostava de fazer. Kaylie me disse que tinha uma sorveteria a duas quadras com um mini-park que ela adorava. Então joguei o resto do cereal na pia e caminhamos em direção a tal sorveteria. Ela sempre carregando o coelho no braço, que eu descobri que se chamava Bunny. 
Caminhamos em silêncio até a sorveteria, que estava lotada para o início de uma manhã, assim que chegamos, Kaylie soltou de minha mão e saiu correndo. A minha única solução foi sair correndo atrás. Quando entrei na sorveteria, quase surtei quando vi Kaylie no colo de homem desconhecido, que a abraçava.
Minha reação foi a mais sensata. Juro.
Quer dizer, eu só comecei a gritar dizendo “AQUELE PEDÓFILO ESTÁ ABRAÇANDO ELA, PRENDAM ELE”. Claro que eu não queria parecer uma louca descontrolada, e o olhar de todos para cima de mim não era o que eu queria. Mas o que você faria em uma situação dessas? No final, ninguém veio em direção ao cara como eu esperava, então juntei toda a minha força feminina e arranquei Kaylie dos braços dele.

— O que você quer, pervertido? Vai agarrar alguém do seu tamanho — Gritei, modéstia parte, eu deveria ter o assustado. Achei isso por alguns minutos, até que ele e Kaylie começaram a rir — Tá rindo de quê, idiota? Tenho cara de palhaça? — Eu deveria ter, porque isso só serviu para eles gargalharem mais. A verdade é que, aquele cara não tinha cara de pedófilo.

— Você deve ser a nova babá — Ele diz, depois de rir.

— Não, sou comediante, pra você ficar rindo desse jeito.

— Lua, ele é meu padrinho — Quem disse foi a Kaylie e bem...

Senti minhas bochechas esquentarem e isso só fez o cara rir mais. 
Sinceramente, qual era a graça?

— Você está parecendo um tomate, Lua — Kaylie ria também.

Cruzei os braços e esperei a sessão “Ria da cara de uma babá desesperada acabar”.

— Desculpa por isso — ele dizia e continuava a rir — Chay Suede, prazer

— Lua Blanco, o prazer é todo o seu 

— O nome dela significa moon — Disse Kaylie.

— Sério? Que legal, Kay você não tinha aula de natação hoje?

Sabe aquele infame ditado de que criança NÃO mente? Estava completamente comprovado. 

— A Lua falou que eu vou matar aula — Se antes eu estava aparecendo um tomate agora eu estava parecendo sei lá... Um abacate.

— Sério, Lua? — O Chay me olhou risonho.

— Sabe como é...

— Ah não se preocupa, eu sempre quis fazer isso, o Arthur dá para a menina um milhão de coisas para fazer para ela matar o tempo. Mas não adianta, ela ainda sente falta dele, me diz... Que tipo de idiota que é dono de uma empresa trabalho em um sábado?

— Ah, o que exatamente o senhor Aguiar faz? — O meu interesse era extremamente profissional, tipo assim, eu morava com o cara.

— Ele é dono de uma empresa de propagandas, sabe a propaganda da coca-cola, GQ e das maiores marcas? É a empresa Aguiar que produz.

— Certo — Então ele era mais rico do que eu imaginava — Mas ele se da bem com a Kaylie, certo? — Perguntei porque, por mais que o cara fosse lindo, rico e tudo o mais, ele deveria ser um bom pai. Senti ontem que a conexão entre ele e Kaylie era forte, mas a conexão entre meus pais também era e ela ainda fazia sacanagens como o seu personal trainer.

— Ah, sim, o Arthur é louco pela Kaylie, só é meio ocupado. Quer tomar um sorvete?

Acabei aceitando, já que eu estava em uma sorveteria e Kaylie não para de puxar a barra do meu short para chamar a atenção. Eu e a Kaylie pedimos sorvete de pistache com calda de morango e o tal do Chay pediu um básico de chocolate, sentamos em uma mesa e eu tentei ao máximo fazer perguntas sobre o Aguiar sem parecer uma maluca. As onze e cinquenta, voltamos para a casa para almoçar, e que menina faminta, viu? Ela repetiu dois pratos do ensopado que a Margareth fez – a empregada folgada – e depois comeu três pedaços de bolo. Pelo menos ela não iria morrer de desnutrição.

— Então, quer fazer o que agora?

— A gente pudia ir no cinema.

— Gostei, vai se trocar.

Ela sorriu animada e saiu saltitando pela escada, quando ela estava quase no topo eu a chamei.

— Com as suas próprias roupas agora, Kaylie.

— Não sei do que você está falando — Se fez de desentendida.

— Vai nessa — Soltei uma risada.

— Kaylie, onde fica o cinema?

— No shopping — Sério?

— Onde fica o shopping?

— Em uma rua — Eu pensava em seriamente em matá-la.

— Onde fica a rua?

— No bairro.

— Ah, sério Kaylie?

Ignorei e pedi para Margareth ligar para um táxi, que chegou rápido, quando chegamos ao shopping que notei que era perde de tempo, já que o cinema era a seis quadras depois da casa e três depois da sorveteria. Casa bem localizada é outra coisa. Paguei o táxi e puxei a mini-eu pela a escada rolante, já que eu tinha pavor de elevador. Fomos para o terceiro andar, onde ficava o cinema e começamos a olhar os cartazes.

— Que filme quer ver?

— Shrek — Ela gritou, levantando as palminhas.

— Shrek não tá em cartaz.

— Ah, os smurffs.

E lá fomos nós comprar os ingressos pros tais smurffs e pipoca. O cinema estava lotado, já que era um sábado bem ensolarado, e pegamos um acento bem na frente, eu odiava acentos na frente, as pessoas ficavam com a cabeça enorme. No final, vimos o filme e eu me matei de rir. Era crime gostar de filmes infantis?
Saímos do cinema lá pelas seis da tarde e Kaylie inventou de que queria ir ao banheiro. Fiquei esperando na porta, perto da escada rolante, quando eu o vi. O SENHOR AGUIAR. ISSO MESMO.
E ele não estava sozinho, estava acompanhado de uma ruiva com os peitos siliconados e um decote imenso. E ele sorria feito um bocó, parecia que haviam colocado um anzol nos seus lábios de tanto que estavam erguidos, arregalei os olhos. Então era isso o que ele fazia invés de ficar com a filha? 
Espera, ele estava vindo em minha direção? Ele ainda não havia me visto? O que eu faço? A Kaylie não pudia ver o pai ali.
Então saí correndo e me escondi atrás de um cartaz, esperando que ele não me visse, Aguiar e a ruiva peituda caminharam até a bilheteria.
— O que você tá fazendo aí? — Perguntou um japa.

— Te interessa? Vai cuidar da tua vida, moleque.

— Acontece que eu sou atendente do cinema, garota.

— E olha minha cara de preocupada? Vaza.

— A senhora vai ter que se retirar daí — Disse o japa, se aproximando de mim, sim, estávamos os dois atrás do cartaz.

— Vai me tirar? Pois se você pôr a mão em mim, vou fazer você ser atendente dos capetinhas, lá no inferno.

— Se a senhora me ameaçar, terei de chamar o gerante.

— CHAMA O PAPA SE QUISER — Eu não notei que estávamos gritando até que eu dei um tapa sem querer no cartaz e ele caiu.

Pronto, estava ferrada.
Todos do cinema estavam olhando para a loura descabelada que discutia com o atendente do cinema, e pior. ELE VIU. Arthur Aguiar arregalou aos olhos ao ver a babá de sua filha discutindo no cinema, e sinceramente, senti vontade de cavar um buraco no chão e me esconder lá dentro até o final dos tempos.

— Lua? — Ele perguntou, se aproximando.

— Olá senhor Aguiar — Disse, fingindo um sorriso inocente.

— Você conhece ela? — Perguntou a ruiva.

— Ela é a babá da minha família... Aliás, cadê a Kaylie?

Foi apenas falar na pimpolha que ela apareceu, os olhos arregalados ao ver o pai com o braço entrelaçado a mulher.

— Papai? Quem é ela? — Ela se agarrou a minha perna manhosa.

— Filha, o que você está fazendo aqui?

— A Lua me trouxe no cinema, ao contrário do senhor, que prefere vir com a ela do que vir comigo — Arthur parecia que havia levado um choque.

— Filha, não é nada disso — Arthur se agachou e tentou alcançar seu braço, mas Kaylie se esquivou e me abraçou mais.

— Vamos, Lua.

Atendi ao pedido de Kaylie e nós duas caminhamos até a escada rolante, deixando Arthur parado com aquela mulher. Um extinto dentro de mim, algo que até eu não sabia que tinha, acendeu dentro de mim e a fúria me atingiu. 

— Espera aí, Kaylie — Disse e caminhei até Arthur que conversava com a ruiva como se nada houvesse acontecido — Senhor Aguiar?

— Lua? — Ele franziu o cenho.

— Eu sei que só estou aqui a dois dias e que não te conheço ou tenho o direito para falar, mas já gosto muito da sua filha então eu realmente espero que você tome vergonha na cara e dê atenção a ela, que percebi no momento que a vi, é tudo o que ela precisa. Então pare um pouco de pensar em si mesmo para ver que você pode sim, magoar uma criança.

Não esperei que ele me respondesse e caminhei até Kaylie que me esperava abraçando o próprio corpo pequeno, sentia-me aliviada por dizer tudo aquilo, temerosa pelo o que me aconteceria e triste por Kaylie, que assim que saímos do shopping se desmanchara em lágrimas. Peguei o primeiro táxi que vi e coloquei Kaylie sobre meu colo, mexendo em seus cabelos até chegarmos em casa. Assim que o táxi parou em frente a mansão Aguiar, eu noto que Kaylie dormiu, com dificuldade pago o táxi e coloco – com ajuda do taxista – Kaylie sobre meu colo.
Caminho desajeitadamente com ela até a casa, demorando-me na escada, abro a porta de carvalho com a mão direita e adentro o quarto de Kaylie, colocando-a com cuidado sobre a cama em formato de abobora.

— Lua — Ela segura a barra do shorts quando me distancio —Deita aqui? — Ela disse tristinha, olhando-me com os olhos de amendoins.

— Tá bom, pimpolha. Vou apagar a luz.

Apago a luz rapidamente, e depois tiro os sapatos de Kaylie e os meus, me aconchegando sobre os cobertores de sua enorme cama. É quando Kaylie se aconchega em meus braços que noto que estrelas brilhando sobre o teto.
E durmo pensando no que teria de enfrentar quando Aguiar voltasse.
Quando acordei, estava escuro lá fora e me desvencilhei com cuidado de Kaylie, pegando meus sapatos e fechando sua porta com cuidado. No despertador de meu quarto marcava dez horas da noite, desci as escadas em direção a cozinha, que já estava com as luzes apagada, exceto pela geladeira aberta. Foi quando vi as costas de Arthur, nuas. Os músculos definidos me fizeram arregalar os olhos. E agora?
Tentei infrutiferamente escapar em silêncio. Infrutiferamente.

— Lua? Pensei que estava dormindo, vi vocês duas.

— É, acordei — Não, Arthur. Ainda estou dormindo e esse é meu fantasma que escapou para observar as suas costas gostosas... Chega, Lua.

— Então, podemos conversar?

Pronto, era agora que ele me despedia e eu voltava pro Brasil. Quem mandou xingar o chefe?

— Precisa mesmo? — Disse baixinho, ele não ouviu e sentou na bancada.

— Então, eu quero pedir desculpas.

— OI?

— Eu quero pedir desculpas pela cena no cinema.

— Desculpas? — Ele era pirado — Sinto muito falar assim, mas o senhor é pirado? — Ele começou a rir. Era incrível o senso de humor dos americanos.

— Me chame de Arthur, Lua. Não, eu não sou pirado. Eu realmente fiz errado em não passar o dia com a Kaylie e me chateia, de verdade.

— Ah, tudo bem, acontece.

— Também me deixou surpresa ele gostar tanto de você. Vocês até se vestem igual — Ele tinha um sorriso que iluminava o rosto inteiro.

— Como você disse, a Kaylie é criativa.

— Exato, e para me desculpar que eu proponho que eu, você e a Kaylie saíssemos amanhã, eu preparo tudo.

— Kaylie amaria — Digo, cruzando os braços.

— Verdade.

Então ele se ergueu até a minha direção e me beijou.
Na bochecha, mas foi um beijo, me arrepiei dos pés a cabeça.

— Boa noite, Lua.

— Boa noite, Arthur


Quer saber? Arthur Aguiar não era tão ruim assim.






Continua...


Comentem meus amores!!




4 comentários:

Translate

Talk to me

Mundo dos sonhos Copyright © 2013 - Designer by Papo Garota,Programação Emporium Digital