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Web novela: Nanny Blanco


                                                             Capitulo 1




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Você deve estar se perguntando o que levaria a primeira aluna da classe da maior universidade do Rio de Janeiro, dona de um emprego garantido em um dos melhores hospitais particulares, namorada de um lindo e charmoso recém-formando em ortodontia a se candidatar para o medíocre trabalho de babá? Bem, a verdade é que eu não sou essa garota. Eu fui ela. 
Até um mês atrás tudo estava perfeitamente bem em minha vida, eu havia me formado a quatro meses como a primeira aluna da classe de medicina, eu começara a trabalhar em um dos melhores hospitais do país, eu namorava um carinhoso, lindo e inteligente cara que tinha os mesmos planos que eu. Tudo estava perfeito. Tudo estava como eu sonhara.
Bem, se as coisas estivessem como eu sonhara eu não estaria em um avião a caminho do outro lado do continente
Primeiro: depois de um namoro de três anos eu estava sendo deixada por um recepcionista. Exatamente, “um”, no sentido masculino da palavra. Claro que eu fiquei abalada, que garota não ficaria abalada ao ser deixada por um cara? Com a estúpida de desculpa de que “Lua, eu te adoro, mas você está mais preocupada em namorar do que com o cara com quem está namorando” Ele poderia ter dito que eu era feia, irritante, estúpida, mas dizer que eu não me importava com ele? Eu havia dedicado três anos de minha vida a um cara que usou-me para disfarçar sua verdadeira essência até tomar coragem para sair do armário. Além do mais, senti-me extremamente boba por ao menos perceber, quer dizer, que garota não nota quando seu namorado não reclama em ir as compras com você? Ou quando ele não joga futebol com os amigos para assistir filmes românticos da Jennifer Aniston, ou que prefere vinho a cerveja? Eu achava que ele era apenas carinhoso, romântico e o namorado dos sonhos
Na realidade eu estava fadada a um namoro de três anos sem alguma paixão reciproca.
Ainda assim, depois de lágrimas, dois potes de sorvetes e umas garrafas de vodka, meu problema de coração partido estaria resolvido, quem precisava de um namorado quando se tinha um emprego e uma carreira promissora? Eu guardaria toda a minha dor interior e me concentraria em me tornar a melhor cirurgiã cardíaca do Brasil. Eu iria sobreviver.
Até que meu supervisor deu-me a fatídica noticia de que estava perdendo a minha bolsa cardiotorácica por motivos simples de antipatia para com os pacientes. Obviamente eu protestei, eu não queria ser amiga deles, eu já estava fazendo favores o suficiente salvando a suas vidas. “Lua, você não tem que ser apenas uma ótima cirurgiã, você tem que ser uma ótima cidadã”. Eu era uma ótima cidadã, eu pagava impostos, eu até comprava a manteiga mais cara para ajudar a senhora idosa da mercearia perto de minha casa. Mas quem disse que isso importou?

No final, lá estava eu: Lua Blanco, 23 anos, recém-formada, solteira, desempregada e vivendo com os pais. Como a minha situação poderia ficar pior? Exatamente, minha situação não poderia piorar. Então eu fiz o necessário, comprei minha garrafa de vodka favorita e me enterrei em meu pequeno quartinho enquanto ouvia as novas dores de cotovelo do sertanejo e lamentava por ter a vida completamente acabada
Foi nesse exato momento, quando eu já estava vendo em dobro, que resolvi checar meus e-mails e vi a mensagem de uma ex-colega que havia se inscrito para ser babá em outro país. Além de receber um ótimo salário, ela vivia na casa da família que a contratara e poderia fazer um curso
Então resolvi pesquisar o que eram as tão famosas au pair que ela tanto falava, e achei um site ótimo onde as pessoas se inscreviam e esperavam até que o família se interessasse por sua ficha e as quisesse contratar. E foi assim que a minha vida mudou.
Inscrevi-me sem ao menos ligar se seria aceita ou não, afinal, eu nunca fui exatamente boa com crianças. O que eu não esperava era receber uma ligação da agência três dias depois dizendo que eu estava sendo contratada por um tal de Arthur Aguiar. Fora naqueles vinte segundos de espera – com a atendente quase desligando em minha cara – que pensei: eu poderia ficar no Brasil e lamentar pelo resto dos meus dias eu ter perdido o cara que amava e o emprego dos sonhos até ser contratada por um posto de saúde pública e terminar meus dias com um marido gordo, um salário horrível e vendendo atestados falsos para pagar uma escola particular para meu futuro filho. Ou eu poderia ir para os Estados Unidos, onde morava a família Aguiar e adiar o que inevitavelmente aconteceria. Quando você já está no fim do poço não há para onde decair. Então eu aceitei, sem pestanejar
Não tive problemas em convencer meus pais, afinal, eu já era maior de idade e não éramos muito próximos. Eu era a irmã mais velha de cinco irmãos que tinham a anormalidade de ter nomes dedicados a astronomia. Desde então culpo toda a minha revolta a meus pais, que me deram um nome que fora alvo de muito apelidos na escola. Além do mais, meu pai estava feliz por ter uma boca a menos para alimentar e minha mãe estava mais preocupada em mimar meus irmãos e ficar cinco horas por dia com seu personal trainer. E não, ela não estava apenas treinando
Meus irmãos não se importavam, estavam mais preocupados com a própria vida, o que fora apoio suficiente para fazer-me ficar um pouco mais animada com aquilo. Dez meses longe da loucura do Rio de Janeiro, da anormalidade da minha família e sendo paga para cuidar de uma criança pela manhã e noite? Era bom de mais para ser verdade. Moleza.
E foi com esse pensamento, de que tudo daria certo, que embarquei em direção a Boulder, Colorado. Para viver com Arthur e Kaylie Aguiar. Eu não sabia muito sobre eles, sabia que Arthur Aguiar era um pai solteiro muito rico, trabalhava no meio de propagandas e criou Kaylie, sua filha de sete anos, desde que esta nascera. Nunca se casara e eu não fazia a miníma ideia do que acontecera com a mãe da menina. E estas foram as poucas informações que me foram dadas. Ainda estava tentando assimilar o fato de que viveria com pessoas desconhecidas, em um país desconhecido, falando uma língua ao qual eu não dominava completamente e cuidando de uma criança que não tinha nenhum tipo de parentesco comigo. Mas sempre rezando para que tudo desse certo nos 10 meses que passaria ali.
O voo fora terrível, quase doze horas sentada em uma poltrona desconfortável junto a uma senhora de idade que roncava, não consegui dormir um segundo, a comida era horrível e rezei o Pai Nosso trezentas vezes em uma tentativa inútil em adiantar o voo.
Enfim cheguei ao Aeroporto Internacional de Denver, passei rapidamente pela imigração e peguei minha pequena mala sem maiores problemas no desembarque – era meio impossível não avistar minha mala na estera, visto que minha irmã, Ana Terra, a cobriu de lantejoulas rosas e azuis em nossa viagem a Porto Alegre
Coloquei minha mala e minha bolsa de viagem sobre o carregador e joguei a mochila nas costas, o tráfego de pessoas era enorme, então me esforcei um pouco para achar quem me buscaria. Até que vi, um homem enorme, negro e alto usando terno e um cape que o deixou com cara de motorista bem estilo de filmes. Ele segurava um pequena placa branca escrita em letras de forma “L. Blanco”, caminhei rapidamente até ele. Quando estamos próximos que noto o quanto é alto, teria de subir em uma mesa para alcançar seu tamanho.

— Olá, você deve ser Lua Blanco — Ele diz meu nome em um inglês 
completamente enrolado.

— Sou sim, prazer senhor Aguiar — Tento dar meu melhor sorriso “colgate”
 que provavelmente me deixou com uma enorme cara de pateta.

— Oh, não senhorita, não sou o Senhor Aguiar. Sou o motorista da sua empresa, Joseph. Ele mandou dizer que sente muito não poder lhe receber, mas que espera que a senhorita tenha uma boa chegada — Ele fala tão rápido que demoro um tempo para processar suas palavras. Obrigado filmes e séries legendadas, vocês me salvaram. E no final me sinto boba por não ter percebido que um cara rico não se vestiria igual a um pinguim feito Joseph.

— Ah, tudo bem, muito obrigado.

Ele pega o carregador e nós caminhamos até o estacionamento, onde el
e abre a porta em uma limusine que custaria minha família inteira. Confesso: fiquei super animada em entrar naquela limusine, como naqueles filmes de Hollywood e anoto mentalmente que um dia irei ficar rica só para comprar uma limusine igual a estas e esfregar na cara do meu ex-namorado.
Assim que entro na limusine, Joseph vai para a direção onde não pode me ver. Durante toda a viagem comi os diversos salgadinhos que estavam no pequeno armário, vi TV acabo – onde entendi pouca coisa – e bebi um pouco de refrigerante, já que não poderia experimentar o vinho. Imagina chegar até a garota com bafo de cachaça? Durante a viagem descobri que Boulder era mais longe de Denver do que imaginava.  
Quando finalmente chegamos, cerca de duas horas mais tarde, não sabia ao certo. Joseph abriu a porta para mim e me deparei com uma casa enorme, se a limusine valeria a minha família inteira, aquela casa valia todo o meu condomínio. O Joseph me ajudou a colocar tudo para dentro e paramos no centro do imenso saguão em frente a escadaria dupla.

— E agora? — Perguntei com as mãos nas costas.

— Agora eu volto para a empresa.

— Quê? Vai me deixar sozinha aqui?

— É seu trabalho, oras. A empregada vai te indicar o quarto e onde a Kaylie está, ok? Prazer em conhecê-la, senhorita Blanco

E ele foi embora sem ao menos me deixar falar. Qual é, o cara estava tão desesperado assim para sair de perto de mim? Humpf. Droga, o que eu faço agora? Aquela casa era grande o suficiente para eu me perder nela e só ser encontrada no natal que vem, não podia sair andando por aí.
Lista de coisas para fazer em Boulder:1. Um mapa completo da minha nova casa, ah, e um GPS
Fiquei ali, parada, brincando com a barra da minha camiseta até que ouço um barulho na escadaria a minha frente. Vida, finalmente. E é nesse momento que a vejo, era baixinha, magrinha, com longos e lisos cabelos castanhos e olhos que pareciam dos amendoins, ela usava um vestidinho rosa e segurava um coelho de pelúcia no braço.

— Olá, você deve ser a Kaylie, certo? — Perguntei, na minha melhor voz de querida. A garota era extremamente fofa. Ela assente e leva o dedo até a boca — Então Kaylie, eu sou a Lua. A sua nova babá —Ela apenas me fitou com seus enormes olhos amendoins e abraçou o urso — Então, tudo bem?

— Lua é um nome estranho — Ótimo, a única frase que consigo arrancar dela é uma ofensa ao fanatismo da minha mãe. Valeu!

— Significa moon* — Digo, em um inglês todo enrolado.

— Estranho, viu? Mas eu gosto do seu cabelo.

— Ah, sabe Kaylie, eu deixo você mexer no meu cabelo se me levar até meu quarto — Chantagem, eu sei, mas estava super desesperada.

— Promete? — Já disse que ela tem olhos realmente grandes?

— Prometo.

Kaylie me levou a saltos até o segundo andar da casa e me apresentou ao meu quarto, que ficava a duas portas do seu. Aí ela me empurrou para dentro e disse que estaria no quarto preparando o salão. Salão? Pera aí, eu disse que ela poderia mexer no meu cabelo, não treinar a sua futura profissão comigo. Vai que ela me deixa careca
Enfim, ignorei meu surto momentâneo e entrei no quarto. E que quarto, achei que eles iriam me colocar em um quarto pequeno, no porão ou algo do tipo, mas me deparei com um quarto enorme, bem decorado, com uma king size e uma TV de plasma sobre a parede. Puxei minha mala e as bolsas até o quarto e larguei-os a esmo no chão. Arrumaria aquilo mais tarde.
Fechei a porta do quarto e caminhei até o da Kaylie. Bati na porta da branca de carvalho a espera de uma resposta que não recebi. Então abri a porta e adentrei. O quarto dela era um verdadeiro quartinho de princesa, cheio de brinquedos, a textura de uma parede era uma foto dela, havia TV, rádio, xbox e até uma carruagem como a da Cinderela. A cama era em formato de abobora. A Kaylie estava sentada sobre o tapete rosa-choque mexendo algo roxo em um potinho cheio d'água, na sua frente tinha tesoura, escova e até spray. Droga, eu só queria me enturmar com ela, não ser transformada em um manequim.

— Kaylie, acho que você exagerou um pouco, sabe? Pode só pentear meu cabelo se quiser, ele embaraça superfácil — Digo, tentando fugir do perrengue em que me meti.

— Mas você prometeu — Ela disse com a voz chorosa, os olhos de amendoins cheios d'água me fitando. Droga, garota manipuladora — Você disse que me deixaria mexer no seu cabelo — E ela começou a chorar. Isso mesmo, abriu o maior barreiro. Eu, claro, me apavorei. Vai que ela dizia isso pro pai e ele me comprava a próxima passagem em direção ao Brasil?

— Ok, só não chora — Sentei-me em frente a ela, dane-se.

— Tá bom, vira de costas e deita a cabeça no meu colo

Fiz o que ela mandou, primeiro eu senti um pouco de água nos meus cabelos e Kaylie começou a fazer uma massagem gostosa nos meus fios, depois ela o escovou e passou uma espécie de pincel nas pontas. Não sei quanto tempo ficamos ali, só notei quando ela disse que eu estava pronta. Eu levantei a cabeça e olhei-me no espelho de mão que ela me deu e CARAMBOLAS
Se Kaylie queria ser cabeleireira, que ela desistisse agora, eu estava parecendo a versão loura da Margie, dos Simpsons. Os meus tão adorados cachos estavam duros e completamente equilibrados para cima, me deixando parecer que havia levado um choque.

— Quando eu olhei sua foto não imaginei que seria tão radical.

Quase tive um ataque do coração quando ouvi a voz da porta e me virei completamente em direção a ela, apenas para ver nada mais e nada menos do que Arthur Aguiar parado e sorrindo. Não foi muito difícil descobrir que era ele, já que Kaylie saiu correndo para seu encontro. Mas eu realmente não esperava por isso, digamos que papai Aguiar era... Bonito, quem eu quero enganar? Ele era lindo demais, do tipo de homem que parecia ter saído de uma catalogo de revista. E ótimo, a primeira impressão que eu havia dado a ele era de noiva do Chuck, não de babá responsável.
Ele deu um beijo no topo da testa de Kaylie e a levou ao chão.

— Como foi seu dia, querida?

— Foi ótima, papai. A Lua me deixou pentear ela, gostou? — Kaylie tinha um sorriso tão radiante que quase fez valer a pena o mico. Quase.

— Ah, isso explica o visual... Retrô. Ficou lindo, querida — Deus, ele realmente não sabia mentir. Seus olhos amendoins – tão ou mais bonitos que o da própria filha – me fitavam como se eu fosse um ET. E parecia mesmo — Kaylie, minha filha, pode ficar brincando? 

Kaylie assentiu e correu para seus brinquedos, Arthur acenou para que eu acompanhasse. O fiz sem pestanejar, e caminhamos até a porta do meu mais novo quarto.

— Prazer, eu sou Lua Blanco — Finalmente me manifestei, toda constrangida e erguendo a mão a qual ele apertou suavemente.

— Eu sei disso, meu nome é Arthur, espero que a Kaylie não tenha dado trabalho no seu primeiro dia, ela pode ser... Criativa — Criativa? Sério?

— Não, ela é um amor de criança — Era assim, apesar do episódio do “ataque do cabelo de ET”, eu tinha realmente gostado da baixinha.

— Ela é sim, apenas um pouco intensa as vezes, eu trabalho muito então ela fica sozinha, nunca se deu bem com as babás — Legal, além de ser transformada na mistura do Chuck e da Margie, eu estava fadada a um trabalho que consequentemente não daria certo? Ponto para Lua — Não se assuste com isso, com você provavelmente vai ser diferente. É mais nova
— Certo, espero poder cuidar bem da Kaylie.

— Aposto que sim — Sorriu — Nossa você deve estar super cansada de viagem, você pode ir se quiser, eu tomo conta da Kaylie enquanto estiver em casa, se estiver indisposta mando a Helga mandar seu jantar no quarto.

— Ah, muito obrigado, senhor — Ele fez uma careta.

— Sério?Não sou tão mais velho que você, Lua. Me chame de Arthur.

— Certo, Arthur. Não vou esquecer — Eu estava sorrindo como uma maníaca naquele momento.

— Te vejo no jantar?

— Claro.

Então ele saí em direção ao quarto ao lado. BEM AO LADO DO MEU. Solto um suspiro e abro a porta, apenas para me deparar com meu novo quarto, caminho em direção ao banheiro e vejo minha imagem no espelho.
Lista de coisas para fazer em Boulder: 1. Um mapa completo da minha nova casa, ah, e um GPS.
2. Não deixar Kaylie brincar com meu cabelo. NUNCA MAIS
Bem, aquele era apenas o começo da minha nova vida.




Continua...



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